Diante das recentes tragédias acontecidas nas escolas brasileiras podemos dizer que estamos todos absolutamente machucados, feridos, decepcionados. Não há família, não há aluno, não há professor que esteja indiferente a tudo que está acontecendo. É natural, é compreensível que nesta situação caiamos no perigo da histeria e da contra-violência por sentirmos a nossa segurança como adultos violada. É fácil procurarmos um culpado, uma solução mágica. Levante os muros, coloque policias nas escolas, o que você está fazendo para impedir que isto aconteça? Compreensível, todo pai e toda mãe quer o melhor para o seu filho, quer a segurança para o seu filho. É totalmente humano.
O que é desumano, porém, é quando eu vejo em grupos de WhatsApp pais e mães, repassando notícias sem checá-las. O que é desumano é quando a gente começa a dizer para as crianças, como eu já vi, “olha, mas tem gente querendo ir matar você na escola, toma cuidado, fica atento na aula”. Isso é desumano.
Não há como blindar a vida diante das tragédias. Isso é o preço de sermos humanos, é o preço de termos construído uma sociedade tão doente. Uma sociedade que exalta a violência o tempo todo. Obvio, boa parte dos games, você vai ver que muitos deles exaltam e transformam a violência em algo gostosinho. Vá numa pizzaria, numa lanchonete, de noite, muito frequentemente, você vai ver o que? Ultimate Fighting. Os estádios viraram arenas, isso não é pouca coisa. Se você observar boa parte das séries de TV mais vistas, dos conteúdos dos noticiários, impressos, audiofônicos e televisivos... A nossa sociedade adora a violência o tempo inteiro. E está dando ruim. Então, é diante da dor que a gente tem que escolher a resposta que a gente vai dar.
Porque existe sim uma diferença entre o cuidado, o diálogo, a aproximação entre a família e a escola, que se dá de forma positiva, propositiva, criativa. O que a gente pode fazer? Quais são as soluções que a gente pode construir? Exigindo, talvez um pouco menos da escola e pensando um pouco mais no que você, como pai, como mãe, como familiar, pode fazer dentro da sua própria casa. Cuidando, prevenindo, observando, estando atento, conversando, acolhendo o seu filho, explicando pra ele os cuidados com uma sociedade, com uma rua, com uma vida já tão violenta.
Mas daí a repassar fake news, daí a dar de dedo na diretora da escola, como se ela tivesse então uma solução mágica. A gente precisa cair na real de que a fome, o terrorismo, a psicopatia, a gente precisa entender que questões assim não vão se resolver por um salvador da pátria, nem por uma solução mágica.
Nós não estamos na era messiânica de um profeta, de um messias, que vai chegar e vai resolver tudo. Ao contrário, se nós olharmos inclusive o momento do planeta, o que nos cabe é a conexão humano a humano para que a gente reconstrua o tecido social que nos dê alguma proteção.
Infelizmente, psicopatas e sociopatas existem por aí. Eles são, graças a Deus, muito raros. Mas eles existem por aí. Se por uma lado não dá para blindar a nossa vida da existência deles, dá sim pra desblindar a nossa vida quanto ao amor, o cuidado, o diálogo, o acolhimento e a compaixão, que são as nossas únicas armas frente à barbárie.
Eu estendo aqui minha solidariedade, meu amor a cada uma dessas famílias que perderam entes queridos. A família da professora, a família de cada uma dessas crianças, que nunca mais terá uma Páscoa ou um Natal igual. Mas eu estendo também aqui, um pouco de lucidez pra nós todos. Porque eu aprendi com o meu mentor espiritual, Victor Frankl, o criador da logoterapia, que é diante do sofrimento que nós reafirmamos o nosso projeto de vida. O meu projeto de vida é o amor. O meu projeto de vida é a humanização. O meu projeto de vida é lembrar que nas horas mais difíceis, nas horas mais dolorosas, nas horas mais desafiadoras, nós temos ainda assim algum grau de escolha sobre como vamos reagir as nossas dores.
Atacar a escola, exigir soluções descabidas, ameaçar os professores, não deixar seu filho ir mais para a escola, pode ser um ato de uma tamanha violência que roube, que tire do seu filho o direito de crescer num mundo com esperança e com alguma paz. Pela certeza de que sermos nós, parte do amor, das soluções, da luz, da compaixão, da empatia, da união.
Não há, repito, como blindar as nossas vidas. Não há uma única solução, nem para fome, nem para os conflitos macroeconômicos, nem para essa cisão política que tivemos, nem para a psicopatia e para a sociopatia que sempre existiram na humanidade. Mas há sim, muitas soluções que nós podemos construir por meio do diálogo, do amor, do carinho. Contra a dor, eu ofereço o meu amor. Contra a violência, eu ofereço o meu amor. Contra a sensação de falta de sentido, eu ofereço a educação sim. Porque é a educação a única forma da nossa sociedade dar um salto qualitativo de que ela tanto necessita.
É preciso vencer os ciclos de violência nos grupos de whatsApp, nas reuniões com a escola. Porque se a família viola a escola, ela está violando a única e talvez a última instância que se importa de verdade com as nossas crianças e adolescentes. Porque olha, pai, olha mãe, eu te desafio a achar alguém que ame seu filho, que se importe com seu filho, tanto quanto a professora, professor dele. Eu te desafio a achar alguém que acorde, que vive, que dorme, que sonha, que o seu filho se torne uma boa pessoa, tanto quanto você. E eu falo aqui dos meus 24 anos de sala de aula, falo aqui como psicólogo há 30 anos atendendo, convivendo, ministrando palestras, escrevendo livros no mundo educacional.
Eu tenho muito orgulho de ser psicólogo e muito orgulho de ser educador. Mas não aceito covardia, e não aceito violência. Nós não podemos fazer parte da violência do mundo. Nós não podemos violar nas nossas crianças a leveza e a esperança. Cuidados e orientações são bem-vindos, sempre foram e sempre serão. Paranóia, drama e violência nunca ajudaram e nem nunca vão ajudar, muito menos numa hora em que estamos todos muito feridos. Não são muros blindados, não é um professor na porta de cada escola, armado, que vai resolver. Isso é uma ilusão.
Países que tentaram soluções assim também não tiveram resultado tão melhores. A solução é de todos e cada um de nós. Você que trabalha na publicidade, que tal começar a trabalhar por valores nas suas propagandas? Você que trabalha na política, que tal realmente se comprometer com uma formação de um plano para crianças e adolescentes? Você que trabalha no direito, você que trabalha na polícia, você que trabalha na educação, você que trabalha em qualquer lugar? Vamos lembrar que é preciso uma aldeia para formar uma criança. As nossas crianças, os nossos adolescentes precisam e merecem que adultos dignos se conversem, que se ajudem, que estendam a mão uns pelos outros. O que seu filho vai aprender de ver você xingando, maltratando, falando mal da escola que ele acorda todo dia para ir. É na hora da dor que se revela o amor.
Então eu lembro que aqui, esse é o meu desabafo te chamando para baixar as armas e aumentar o volume do seu amor. Porque não há outra arma contra a violência, se não o amor. Violência não se responde com violência, muito menos contra aqueles que estão também se sentindo tão violados, tão violentados quanto cada um de nós, que são os profissionais da comunidade escolar. Que nós saibamos dar as mãos uns para os outros, colocá-las dentro do nosso próprio coração, olhar para dentro de nós e cada um de nós pensarmos o que de melhor a gente pode fazer uns pelos outros.
Concluo lembrando uma última vez, a única, a única!, arma contra a dor é o amor, nunca a violência.
Obrigado!
O que é desumano, porém, é quando eu vejo em grupos de WhatsApp pais e mães, repassando notícias sem checá-las. O que é desumano é quando a gente começa a dizer para as crianças, como eu já vi, “olha, mas tem gente querendo ir matar você na escola, toma cuidado, fica atento na aula”. Isso é desumano.
Não há como blindar a vida diante das tragédias. Isso é o preço de sermos humanos, é o preço de termos construído uma sociedade tão doente. Uma sociedade que exalta a violência o tempo todo. Obvio, boa parte dos games, você vai ver que muitos deles exaltam e transformam a violência em algo gostosinho. Vá numa pizzaria, numa lanchonete, de noite, muito frequentemente, você vai ver o que? Ultimate Fighting. Os estádios viraram arenas, isso não é pouca coisa. Se você observar boa parte das séries de TV mais vistas, dos conteúdos dos noticiários, impressos, audiofônicos e televisivos... A nossa sociedade adora a violência o tempo inteiro. E está dando ruim. Então, é diante da dor que a gente tem que escolher a resposta que a gente vai dar.
Porque existe sim uma diferença entre o cuidado, o diálogo, a aproximação entre a família e a escola, que se dá de forma positiva, propositiva, criativa. O que a gente pode fazer? Quais são as soluções que a gente pode construir? Exigindo, talvez um pouco menos da escola e pensando um pouco mais no que você, como pai, como mãe, como familiar, pode fazer dentro da sua própria casa. Cuidando, prevenindo, observando, estando atento, conversando, acolhendo o seu filho, explicando pra ele os cuidados com uma sociedade, com uma rua, com uma vida já tão violenta.
Mas daí a repassar fake news, daí a dar de dedo na diretora da escola, como se ela tivesse então uma solução mágica. A gente precisa cair na real de que a fome, o terrorismo, a psicopatia, a gente precisa entender que questões assim não vão se resolver por um salvador da pátria, nem por uma solução mágica.
Nós não estamos na era messiânica de um profeta, de um messias, que vai chegar e vai resolver tudo. Ao contrário, se nós olharmos inclusive o momento do planeta, o que nos cabe é a conexão humano a humano para que a gente reconstrua o tecido social que nos dê alguma proteção.
Infelizmente, psicopatas e sociopatas existem por aí. Eles são, graças a Deus, muito raros. Mas eles existem por aí. Se por uma lado não dá para blindar a nossa vida da existência deles, dá sim pra desblindar a nossa vida quanto ao amor, o cuidado, o diálogo, o acolhimento e a compaixão, que são as nossas únicas armas frente à barbárie.
Eu estendo aqui minha solidariedade, meu amor a cada uma dessas famílias que perderam entes queridos. A família da professora, a família de cada uma dessas crianças, que nunca mais terá uma Páscoa ou um Natal igual. Mas eu estendo também aqui, um pouco de lucidez pra nós todos. Porque eu aprendi com o meu mentor espiritual, Victor Frankl, o criador da logoterapia, que é diante do sofrimento que nós reafirmamos o nosso projeto de vida. O meu projeto de vida é o amor. O meu projeto de vida é a humanização. O meu projeto de vida é lembrar que nas horas mais difíceis, nas horas mais dolorosas, nas horas mais desafiadoras, nós temos ainda assim algum grau de escolha sobre como vamos reagir as nossas dores.
Atacar a escola, exigir soluções descabidas, ameaçar os professores, não deixar seu filho ir mais para a escola, pode ser um ato de uma tamanha violência que roube, que tire do seu filho o direito de crescer num mundo com esperança e com alguma paz. Pela certeza de que sermos nós, parte do amor, das soluções, da luz, da compaixão, da empatia, da união.
Não há, repito, como blindar as nossas vidas. Não há uma única solução, nem para fome, nem para os conflitos macroeconômicos, nem para essa cisão política que tivemos, nem para a psicopatia e para a sociopatia que sempre existiram na humanidade. Mas há sim, muitas soluções que nós podemos construir por meio do diálogo, do amor, do carinho. Contra a dor, eu ofereço o meu amor. Contra a violência, eu ofereço o meu amor. Contra a sensação de falta de sentido, eu ofereço a educação sim. Porque é a educação a única forma da nossa sociedade dar um salto qualitativo de que ela tanto necessita.
É preciso vencer os ciclos de violência nos grupos de whatsApp, nas reuniões com a escola. Porque se a família viola a escola, ela está violando a única e talvez a última instância que se importa de verdade com as nossas crianças e adolescentes. Porque olha, pai, olha mãe, eu te desafio a achar alguém que ame seu filho, que se importe com seu filho, tanto quanto a professora, professor dele. Eu te desafio a achar alguém que acorde, que vive, que dorme, que sonha, que o seu filho se torne uma boa pessoa, tanto quanto você. E eu falo aqui dos meus 24 anos de sala de aula, falo aqui como psicólogo há 30 anos atendendo, convivendo, ministrando palestras, escrevendo livros no mundo educacional.
Eu tenho muito orgulho de ser psicólogo e muito orgulho de ser educador. Mas não aceito covardia, e não aceito violência. Nós não podemos fazer parte da violência do mundo. Nós não podemos violar nas nossas crianças a leveza e a esperança. Cuidados e orientações são bem-vindos, sempre foram e sempre serão. Paranóia, drama e violência nunca ajudaram e nem nunca vão ajudar, muito menos numa hora em que estamos todos muito feridos. Não são muros blindados, não é um professor na porta de cada escola, armado, que vai resolver. Isso é uma ilusão.
Países que tentaram soluções assim também não tiveram resultado tão melhores. A solução é de todos e cada um de nós. Você que trabalha na publicidade, que tal começar a trabalhar por valores nas suas propagandas? Você que trabalha na política, que tal realmente se comprometer com uma formação de um plano para crianças e adolescentes? Você que trabalha no direito, você que trabalha na polícia, você que trabalha na educação, você que trabalha em qualquer lugar? Vamos lembrar que é preciso uma aldeia para formar uma criança. As nossas crianças, os nossos adolescentes precisam e merecem que adultos dignos se conversem, que se ajudem, que estendam a mão uns pelos outros. O que seu filho vai aprender de ver você xingando, maltratando, falando mal da escola que ele acorda todo dia para ir. É na hora da dor que se revela o amor.
Então eu lembro que aqui, esse é o meu desabafo te chamando para baixar as armas e aumentar o volume do seu amor. Porque não há outra arma contra a violência, se não o amor. Violência não se responde com violência, muito menos contra aqueles que estão também se sentindo tão violados, tão violentados quanto cada um de nós, que são os profissionais da comunidade escolar. Que nós saibamos dar as mãos uns para os outros, colocá-las dentro do nosso próprio coração, olhar para dentro de nós e cada um de nós pensarmos o que de melhor a gente pode fazer uns pelos outros.
Concluo lembrando uma última vez, a única, a única!, arma contra a dor é o amor, nunca a violência.
Obrigado!
(Professor Leo Fraiman)
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