Ademar Batista Pereira é dono de uma escola em tempo integral de educação infantil e fundamental em Curitiba. Entre saídas e entradas de novos alunos, conseguiu manter sua base. “A receita caiu, mas adequei as despesas. Diminuí a mensalidade em 10%. Foi o que consegui”. Ademar é ainda presidente da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares), e o quadro que ele vê no horizonte de 2021 é surpreendente. “Vão faltar escolas para crianças de 0 a 3, porque 80% das pequenas estão fechando. A grande perda está nessa faixa, que inclui berçário”.
O que fazer numa situação dessa? “Muita gente vai reabrir e vão surgir novas para atender a demanda e essa situação vai ser mais sentida se a volta para o trabalho não coincidir com as aulas. Vai desorganizar toda a família”.
Leia abaixo, a entrevista concedida pelo presidente da Federação.
Como as escolas vão tratar crianças com problemas crônicos de saúde e funcionários do grupo de risco?
Isso é um grande problema. Quando dizem que nada será como antes é isto: vamos ter que dar aulas remotas para crianças que não podem frequentar as aulas e afastar funcionários mais velhos ou com doenças crônicas. Os dois casos são problemáticos. Com quem fica a criança em casa? E quem paga o funcionário afastado? Vamos ter que resolver no dia a dia, enfrentando cada caso, conforme surja.
Isso significa que aulas online vão continuar mesmo para crianças menores?
Mais uma vez: cada caso será tratado de forma individual. Mas se a pandemia desorganizou a sociedade, por outro lado ela mostrou novos caminhos para a aprendizagem, que vamos utilizar. Talvez essas mudanças nos modelos pedagógicos viessem em algum momento, mas o que temos que encarar é a realidade atual.
As escolas particulares devem perder muitos alunos? O estado de São Paulo divulgou uma estatística que mostra um crescimento dez vezes maior em comparação com o ano passado de estudantes saindo das particulares e indo para as públicas.
Não, isso é pontual. O exemplo de São Paulo parece grande em si mesmo, mas significa pouco mais de 2.000 alunos pedindo transferência em todo o estado. Hoje, os pais, com a perda do poder aquisitivo, estão pensando se a mudança para a escola pública não é a melhor opção agora. Mas historicamente matricular um filho em escola particular sempre foi uma aspiração da classe média.
Mas existe tanta diferença assim no nível de ensino, com exceção das grandes escolas?
Vamos analisar pelos índices do Pisa. Nos últimos exames, na categoria leitura, a escola particular do Brasil ficou acima dos Estados Unidos, Japão e outros. Conseguimos o 11º lugar; já quando inclui todos os estudantes brasileiros, ficamos em 59º. Em matemática, a mesma coisa: alunos das particulares na 39º e os estudantes nacionais, 72º. Em ciências o caso se repete: 24º e 68º. Então, nunca fazemos comparação, porque a procura da melhora é de todos. Não se trata de concorrência entre escola particular e pública. Ambas são necessárias.
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