As pessoas amam atribuir características humanas a animais. Os pets ganham (por abstração do dono, claro) preferências, sentimentos, pensamentos e até estados de espírito: “ah, ele tá magoado, deixa eu fazer carinho para consolar!”, “ele só gosta de dormir no ar condicionado!”, “ele é bipolar, às vezes bravo, às vezes uma gracinha!”.
É lógico que essa personificação não deixaria de fora uma das maiores preocupações humanas: a idade. Foi daí que surgiu a velha lenda: para saber a idade humana dos cães, basta multiplicar a idade dele por 7. Um dog de 3 anos teria 21 se fosse um homem, por exemplo.
Mas essa resposta não é tão simples assim. O veterinário Jesse Grady, do departamento de veterinária da Mississippi State University, nos EUA, resolveu esclarecer no site The Conversation o que é verdade e o que é fantasia de dono.
Para começar, a real sobre a regra dos 7 anos: segundo o especialista, esse mito nasceu do fato de que um cão de porte médio e saúde ideal vive, em média, um sétimo do tempo de vida de seu dono. Faz um certo sentido: enquanto um ser humano saudável pode chegar aos 80 anos, um dog médio nas mesmas condições chega facilmente aos 12.
Isso tudo, no entanto, é uma aproximação um tanto grosseira. Nem todo cão é de porte médio, e o veterinário esclarece que cachorros (e gatos) envelhecem de forma diferente não só das pessoas, mas também uns dos outros, dependendo da raça.
Levando em conta que os cães são uma das espécies de mamíferos mais diversa do planeta, podendo variar drasticamente em tipos de corpo, pelo e peso (de 3 kg a 90 kg na idade adulta), não faria sentido colocar todos no mesmo pacote. “É só comparar um chihuahua e um dogue alemão”, exemplifica o veterinário.
O especialista também acrescentou que essa “regra” não funciona por conta da própria expectativa de vida humana. Muitos cães chegam aos 15 anos, mas pouquíssimas pessoas chegam a suposta “idade humana” correspondente – 105 anos.
Há ainda quem considera que há razões menos nobres por trás desse mito: “acredito que foi uma ação de marketing. Foi um jeito de encorajar os donos a levarem os seus cachorros ao veterinário ao menos uma vez por ano”, afirmou o veterinário William Fortney, da Kansas University, ao Wall Street Journal.
Beleza, já deu pra entender que usar a tabuada do 7 é furada. Mas como chegar ao número certo?
Baseado nas ‘Diretrizes dos Estágios Caninos’ da American Animal Hospital Association, os veterinários atuais dividem os cães em seis categorias: filhote, júnior, adulto, maduro, sênior e geriátrico. Segundo Grady, estágios de vida são uma maneira mais prática de pensar sobre a idade; e até mesmo as recomendações de saúde humana se baseiam mais em estágios de desenvolvimento do que no número absoluto da anos vividos.
Ainda segundo o especialista, a raça do cão e seu tamanho são os maiores fatores associados a sua expectativa de vida, seguido da nutrição e peso. Os estágios de vida dos cães e a idade são essas:
Estágio de desenvolvimento | Idade | Características |
Filhote | 0 a 6 meses | Nascimento a maturidade sexual |
Júnior | 6 a 9 meses | Maturidade reprodutiva, continua crescendo |
Adulto | 9 meses a 6,5 anos | Estrutura e sexualmente maduro |
Maduro | 6,5 a 9,75 anos | Envelhecimento |
Sênior | 9,75 a 13 anos | Idoso, se aproxima dos últimos anos de vida |
Geriátrico | > 13 anos | Acima da expectativa de vida |
Combinando os estágios da vida humano e canino, os veterinários aproximaram a idade dos bichinhos se eles fossem gente. No gráfico abaixo, o eixo horizontal mostra os anos reais, e no eixo vertical mostra é a idade “humana” dos cães: Como são fatores cruciais, o veterinário também considerou as diferenças corporais deles.
Desmentida a regra dos 7, a principal recomendação dos especialistas é saber o estágio de vida de seu pet, para poder cuidar melhor dele.
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