Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% ou mais das deficiências poderiam ser evitados com acompanhamento apropriado e planejamento familiar
Por trás daqueles olhinhos amendoados e um sorriso cativante, um mundo a ser descoberto. Quanto amor cabe em um abraço? Muitas vezes, o carinho é a forma mais genuína de mostrar que somos iguais. O mês de agosto, em Lages, está sendo dedicado ao Agosto Laranja, período no qual são realizadas ações de conscientização e prevenção às deficiências, com abordagem sobre todos os tipos de deficiências: físicas, mentais, auditivas, visuais ou múltiplas, de caráter transitório ou permanente, assim como suas causas.
O Agosto Laranja foi instituído no calendário municipal oficial de eventos através da Lei nº 4280, sancionada pelo prefeito Antonio Ceron em 14 de setembro de 2018. Os eventos são caracterizados pelo laço laranja em ações e instituições. Secretarias municipais de Assistência Social e Habitação, Saúde e Educação são parceiras da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Lages.
Este será o primeiro ano que haverá uma programação mais focada no mês de agosto, embora atividades sejam desenvolvidas ao longo de todo o ano. Serão realizadas palestras, caminhadas e distribuição de informativos sobre o que causa a deficiência intelectual, como prevenir, a saúde e cuidados na primeira infância.
Deficiências intelectuais podem ser prevenidas
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% ou mais das deficiências poderiam ser evitadas com apropriado acompanhamento durante toda a vida, desde a gestação, parto, nascimento, infância, adolescência, fase adulta e idade avançada, com medidas simples e econômicas.
Segundo a coordenadora do Programa de Prevenção às Deficiências da Apae de Lages, Júlia Cristina Marian, nas deficiências intelectuais este índice chega a 40%. “São cuidados básicos que podem ser tomados, desde o pré-natal, ou até mesmo antes da mulher engravidar, com tratamentos para doenças sexualmente transmissíveis e infecções. Os cuidados iniciam já no planejamento familiar. Alguns casais até procuram um geneticista para verificar a probabilidade de doenças que podem aparecer na hora do cruzamento genético”, afirma.
Dentre as causas, além de problemas genéticos, como é o caso da Síndrome de Down, estão outros fatores como hipotireoidismo, incompatibilidade sanguínea, diabetes e hipertensão materna, agentes tóxicos (álcool, fumo e drogas) e infecções, como a rubéola, sífilis e toxoplasmose. “Em Lages estamos vivendo uma fase com grande número de mulheres com sífilis, uma doença sexualmente transmissível que tem como tratamento apenas quatro injeções, ou seja, uma forma simples de prevenir consequências mais graves em uma possível gravidez futura. Se não tratada, podem ocorrer nascimentos de crianças com deficiências intelectuais e até físicas”, alerta Júlia.
Outros casos recorrentes é a Síndrome do Alcoolismo Fetal, que é a ingestão de álcool em grandes quantidades pela mãe durante a gestação. Atualmente é considerada a maior causa de déficit intelectual evitável no mundo. Entre as consequências encontram-se o déficit de crescimento, alterações em características faciais e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. “Muitas mulheres grávidas acham que ‘um copinho de cerveja’ não vai fazer mal, mas dependendo do estágio da gestação pode ter um resultado indesejado na formação fetal”, explica a coordenadora.
A prevenção das deficiências físicas, mentais e sensoriais deve ser uma preocupação de toda comunidade desde antes da gravidez e por toda vida. Segundo dados do último senso realizado no Brasil, as principais deficiências encontradas foram: deficiência visual, auditiva, motora severa e intelectual.
A importância do atendimento especializado
A Apae desenvolve atividades e ações de educação especial nos diferentes níveis de atendimentos: estimulação essencial para bebês com atraso no desenvolvimento, e acompanhamento na área pedagógica e de saúde. Em Lages são atendidos 350 alunos, na faixa etária de meses a 70 anos.
Até os seis anos de idade, as portas da instituição são abertas para receber alunos. A partir daí, os usuários são encaminhados para escolas regulares, com acompanhamento do segundo professor e salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE). “Conforme a necessidade e avaliação dos profissionais, alunos com deficiência intelectual severa e baixa funcionalidade ficam conosco até bem mais idade, com todo o acompanhamento”, diz Júlia.
A coordenadora avalia que nos últimos dois anos, praticamente dobrou os atendimentos de estimulação em bebês, resultado positivo de uma campanha que foca no diagnóstico precoce das deficiências e o tratamento adequado o mais rápido possível, visando o melhor desenvolvimento da criança. “Quando os pais recebem a notícia de que o filho não é totalmente saudável como imaginavam durante a gestação, eles vivenciam um período de luto, e precisam se adaptar e assimilar a nova realidade. Por isso muitas vezes demoram a procurar a instituição. Mas essa iniciativa é muito importante para que eles se desenvolvam melhor”.
A equipe técnica é composta de profissionais pedagogos, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional, pediatra, clínico geral, psiquiatra e assistente social.
Atividades em ambientes externos também são desenvolvidas, como a hidroterapia e a equoterapia (especialidade da fisioterapia que utiliza o movimento da marcha do cavalo para proporcionar movimento terapêutico para quem cavalga), realizada em parceria com a cavalaria da Polícia Militar. A Apae de Lages atende também outros municípios que não contam com a sede da instituição.
Texto: Aline Tives
Fotos: Divulgação/Apae de Lages
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