Clay Brites, médico, doutor em neurologia e especialista em autismo, deu dicas de como incluir os autistas na escola aos educadores que participaram do 4º Congresso Catarinense Sobre Autismo, que aconteceu nesta quinta-feira (4), no auditório Antonieta de Barros da Assembleia Legislativa.
De acordo com Brites, são necessárias alterações institucionais e sociais, adaptação curricular e verificação das habilidades de leitura, escrita e matemática.
“Tudo tem de acontecer ao mesmo tempo”, destacou o neurologista, acrescentando que se faz necessário transformar a escola em um lugar prazeroso, no qual o autista chega e quer ficar porque há respeito às hipersensibilidades, fobias e seletividades.
“Se pensar assim, raramente vai errar”, afirmou Brites.
A escola, sugeriu o especialista, deve providenciar uma sala sem muito barulho, bem como permitir que o aluno chegue mais cedo ou mais tarde, evitando mudanças de lugar dentro da sala.
“Rodizio não funciona, a maioria não aceita mudança de lugar”.
Também é importante conversar com a família para conhecer as potencialidades e as dificuldades do aluno autista. “É bom fazer um questionário rápido, onde vai melhor ou pior, do que tem medo, as dificuldades de comportamento social. É preciso fazer um plano junto com a família. Pergunte ‘o que a senhora acha que a escola deveria propiciar para melhorar a qualidade do ensino?’ ‘Ah, não gosta de coisas pretas’. Então vamos tirar as coisas pretas! Dialogue com os pais, eles vão poder orientar onde melhorar a motivação para a criança continuar indo para escola”, insistiu Brites.
No caso das relações sociais, Clay Brites pediu cuidado com a prevenção ao bullying e sugeriu que um adulto acompanhe o autista na hora do recreio.
“O autista é imaturo socialmente, é ingênuo, não percebe a maldade, muitas vezes é preciso disponibilizar um adulto para ver se ninguém está maltratando o autista no recreio.”
Além disso, enfatizou o neurologista, o autista é sincero, honesto e um radical cumpridor da lei. “Ele entrega a sacanagem, 11h47 são 11h47, se sair um minuto antes, ele fala para todo mundo. A escola tem de saber que ele pode entrar em encrencas, tem de proteger do bullying que virá.”
Já na sala de aula, Clay Rittes recomendou aos professores o uso da linguagem literal, objetiva, sem metáforas. “Enunciados de prova também, tudo muito objetivo, para o autista é um sofrimento não entender a linguagem subjetiva”.
Já a adaptação curricular e a adoção de novas estratégias de ensino são absolutamente necessárias, defendeu o especialista.
“Temos de pensar no indivíduo e centrar a proposta pedagógica nele. Aqui não entra positivismo, Montessori, aqui entra Transtorno do Espectro Autista (TEA), então vou adaptar o currículo de acordo com as facilidades e dificuldades da criança.”
Brites ensinou que o autista tem mais facilidade para aprender com tudo que é visual, concreto e sem erro.
“O professor precisa dar a previsibilidade da resposta, fazer tudo certinho, previsível, um mais um é dois, não fala três que não vai dar certo. Usem imagens diretas e claras da rotina escolar, utilizem aquilo que ele gosta, isso vai ajudar a permanecer na sala e cumprir a proposta pedagógica. Em qualquer assunto, vai pelo caminho que ele gosta.”
Mudanças súbitas
Brites pediu aos educadores que evitem mudanças súbitas de rotina ou de métodos.
“Nada de súbito funciona, autista gosta de antecipação, se lá pelas 11 horas vamos sair, ele tem de chegar sabendo que vai sair às 11h.”
Abraços
Nem todos os autistas rejeitam o contato corporal, como um abraço, mas, conforme explicou Brites, têm necessidade de saber antecipadamente que será abraçado.
Nem todos os autistas rejeitam o contato corporal, como um abraço, mas, conforme explicou Brites, têm necessidade de saber antecipadamente que será abraçado.
“’Não é que eu não goste de ser abraçado, eu quero é ser avisado’. Essa é uma dica para quem quer namorar um autista, ‘olha, vou te abraçar’. E é por isso que ao receber um abraço do amiguinho, ele reage e dá um tapa”.
Vítor Santos
AGÊNCIA AL
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