Os grafiteiros atuam de forma voluntária, com o objetivo de mostrar o trabalho. A Secretaria da Educação está aberta a receber novos artistas e dar esta oportunidade, revitalizando os espaços escolares
O grafite como forma de manifestação artística em espaços públicos passou por dualidades ao longo dos tempos. Já foi considerado vandalismo, se aperfeiçoando com o passar dos anos e agora ganha cada vez mais status de arte urbana. Expressando críticas sociais, ou simplesmente deixando muros e paredes mais coloridas e alegres, grafiteiros passam sua mensagem. Um projeto da Secretaria Municipal da Educação vem transformando os muros dos Centros de Educação Infantil Municipais (Ceims) em espaços lúdicos, encantando as crianças.
O primeiro a ser revitalizado foi o muro do Ceim Prof. Maria Sônia de Quevedo, localizado na avenida 1° de Maio, onde era a sede da antiga Slan. O trabalho foi realizado pelo grafiteiro lageano Everton Oliveira Figueiró. Os desenhos foram executados em tempo recorde, durante a solenidade de inauguração do Ceim, com a presença de autoridades e convidados, que ficaram admirados com sua agilidade e talento.
A segunda unidade escolar a receber as pinturas foi o Ceim Aristides de Oliveira Campolin, do bairro Morro Grande. Desta vez, pelas mãos da desenhista e grafiteira Ana Flávia de Oliveira. Aos 21 anos, é formada em Automação Industrial, adora desenhar e começou há pouco tempo com o grafite de forma mais profissional. “Esse muro foi o primeiro que fiz. Fui indicada a participar do projeto por uma amiga e me encantei com a ideia. Resolvi aceitar o desafio e sair da zona de conforto. Sempre gostei de desenhar e de uns tempos pra cá fui estudando por conta própria e aprimorando meus desenhos”, conta.
A intenção, de acordo com a secretária da Educação, Ivana Michaltchuk, é inserir mais espaços escolares no projeto, revitalizando e dando uma cara nova às escolas. “Os grafiteiros atuam de forma voluntária, para mostrar seu trabalho. Estamos abertos a receber novos artistas e dar esta oportunidade”, afirma.
Talento desde criança
Muitas vezes o talento nato precisa de apenas um pequeno empurrãozinho para desabrochar. Everton Figueiró lembra que desde criança aprimora seu talento no desenho, mas foi aos 15 anos que teve seu primeiro contato com as tintas sprays e a cultura do grafite. Desde então nunca parou e há 20 anos vem aprendendo novas técnicas e levando sua arte para os mais variados lugares. “Lembro que em 1998 a primeira vez que descobri o grafite foi pela televisão, uma reportagem sobre os muros de São Paulo. Aqui ainda era algo novo. Não tínhamos nem internet com fácil acesso, então comecei a pintar com meu próprio instinto”, conta.
A primeira escola em Lages a receber os desenhos feitos com spray foi a EEB Lúcia Fernandes Lopes, do bairro Santa Catarina, onde a direção deu o aval e confiou no trabalho de Everton. “Na época aqui em Lages enfrentei muito preconceito. As pessoas me viam com uma lata de spray na mão e não sabiam se o que eu iria fazer era arte ou vandalismo. Gostava de Hip Hop e a forma como me vestia também causava estranheza, me julgavam antes de me conhecer. Eu, como todo adolescente, só queria expressar minhas ideologias”, diz.
Arte que virou profissão
Hoje, muitos grafiteiros ganham a vida com esta arte, abrindo um leque de oportunidades e levando o trabalho mundo a fora. Everton tornou o grafite uma profissão, trabalhando com aerografia (técnica de pintura semelhante ao grafite, mas que utiliza aerógrafos para sua execução) e decoração de ambientes. Um dos trabalhos de expressão na cidade é a parede externa de um Pub, com 700 metros quadrados de desenhos e pintura, onde o trabalho iniciou há cerca de um ano.
Everton Figueiró também foi contratado pela prefeitura, com patrocínio de empresas privadas, para revitalizar as passarelas ao longo do rio Carahá. Já foram pintadas duas e outras duas estão sendo trabalhadas, cada uma delas com um tema diferente.
O interesse pelo grafite vem crescendo entre os jovens lageanos. Tanto que Everton foi instigado a dar oficinas e ensinar esta arte aos alunos entre treze e dezoito anos da EEB Cora Batalha da Silveira, no bairro Coral. “Na época que eu comecei tinha bastante gente interessada, mas poucos continuaram como eu. Hoje vejo um grande número de jovens talentosos iniciando no grafite. Aos meus alunos, primeiro passo a base, a história do grafite, e depois entramos na técnica e, principalmente a diferença entre grafite e pichação. O material é caro e muitas vezes o trabalho enfrenta preconceito, por isso quem quiser entrar neste mundo tem que estar firme no seu propósito”, afirma.
Uma lata de tinta spray, entre as mais baratas, custa cerca de R$ 18,00. Para executar uma pintura grafite em uma parede com dois metros quadrados, com bom acabamento, se gasta em média R$ 400,00, segundo o grafiteiro.
Texto: Aline Tives / Fotos: Toninho Vieira
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