Primeiros rivais da Chapecoense elogiam 'exemplo de SC' antes de reestreia
- Joinville enfrenta Chape em 25 de janeiro; presidente prevê 'carga emocional' grande
A Chapecoense enfrentaria o Atlético Nacional em Medellín pelas finais da Copa Sul-Americana de 2016 no dia 30 de novembro. O destino trágico, porém, apagou do calendário o jogo, assim como os jogos seguintes que a equipe faria: contra o Atlético-MG pelo Campeonato Brasileiro (originalmente marcado para 4 de dezembro, depois remarcado para dia 11 e decidido por um WO) e contra o próprio Atlético Nacional (em 7 de dezembro, em Curitiba).
Assim, o torcedor da Chape só poderá voltar a ver seu time em um jogo oficial praticamente dois meses após a derrota por 1 a 0 para o Palmeiras no Allianz Parque, no dia 27 de novembro, pelo Brasileiro. O reencontro já tem data: 26 de janeiro, contra o Joinville, pela rodada de abertura do Grupo C da Primeira Liga. O jogo deve acontecer na Arena Condá, em Chapecó, cinco dias após um amistoso contra o próprio Palmeiras.
Pela frente, a Chape terá um rival com a qual tem muita identidade e pelo qual foi (e é) muito respeitada. Em entrevista ao UOL Esporte, o presidente do Joinville, Jony Stassun, admite que haverá "uma carga emocional" grande para o compromisso, no qual o JEC deverá realizar uma homenagem ao adversário.
"Bom, será o primeiro jogo da Chapecoense após a tragédia. Com certeza haverá uma carga emocional muito grande nessa partida. Certamente vamos preparar alguma homenagem para o dia da estreia. Serão 90 minutos que ficarão gravados para sempre na nossa história. Vamos nos preparar da melhor maneira para este jogo, e tenho certeza que será marcante para todos que estiverem na Arena Condá", disse Stassun por e-mail, fazendo uma avaliação positiva do trabalho que era feito pelo ex-presidente da Chape, Sandro Pallaoro – uma das 71 vítimas do acidente aéreo do dia 29 de novembro.
"A administração do Sandro Pallaoro é um exemplo para clubes do mesmo porte. A Chapecoense conseguiu fazer do bom planejamento o seu ponto forte. Não é nada simples construir uma história de sucesso como a deles, que subiram da Série D para a Série A em menos de cinco anos. Acho que a responsabilidade financeira do clube diz muito do que foi a Chapecoense nos últimos anos", declarou ainda.
Em seu depoimento, Stassun destacou o bom relacionamento das diretorias de Joinville e Chapecoense, em especial nos últimos anos. A queda do voo da LaMia nos arredores de Medellín vitimou, entre outras pessoas, ex-jogadores do próprio JEC – casos do atacante Bruno Rangel (que defendeu o time entre 2011 e 2012), do meia Arthur Maia (em 2013) e do atacante Kempes (que jogou no time em 2015).
"É claro que foi muito triste para todos nós que vivemos neste meio, mas foi especialmente mais difícil para nós do Joinville. Enfrentamos a Chapecoense quatro vezes neste ano (2016), e sempre fomos muito bem recebidos em Chapecó", disse o presidente jequiano. "Além do mais, tínhamos amigos e ex-atletas nossos naquele avião - como o Kempes, que jogou aqui no ano passado. Os atletas Arthur Maia e Bruno Rangel e o preparador físico Anderson Paixão também já defenderam as nossas cores. Eles, sem dúvida, escreveram seus nomes na história e serão lembrados para sempre."
No Catarinense, 'co-irmão' se mira no exemplo da Chape
A estreia da Chapecoense no Campeonato Catarinense acontece três dias mais tarde, em 29 de janeiro, contra outro time de grande identificação: o Inter de Lages. Dono de uma rápida e recente ascensão nas divisões de acesso de Santa Catarina, o clube – campeão estadual de 1965 – também adota um tom elogioso ao trabalho que a Chape vinha realizando nos últimos anos.
"O Inter de Lages, durante muitos anos, ficou apagado na terceira divisão estadual. Depois que assumimos aqui, conseguimos o titulo da terceira divisão (2013), a classificação à Copa do Brasil (2016), a classificação à Série D (2015), e temos um calendário para o ano de 2017: Catarinense, Série D, Copa do Brasil, Copa Santa Catarina. O que a gente percebe é que a Chapecoense teve resultados que foram organizados pela população, pela torcida, pelos empresários. Conseguiram o acesso à Série C, o acesso à Série B, à Série A", analisa Christopher Nunes, presidente do Inter, por telefone.
À reportagem, Nunes foi sempre elogioso ao se referir à Chapecoense – o clube de Chapecó foi chamado, por exemplo, de "co-irmão" ou de "irmão mais novo, mas mais bem-sucedido" pelo dirigente. O exemplo, segundo ele, pode ajudar o próprio Inter de Lages a buscar novos patamares.
"Pensamos em seguir com esses passos da Chapecoense: apoio de empresários, de torcida. Essa é nossa ideia, pelo tamanho de nossa cidade, de nossa torcida", contou. "Durante todos os anos que estou em Lages, a imprensa brincava para falar da Chapecoense. É um grande exemplo para ser seguido. Isso nos motivava muito – uma equipe jovem, com uma gestão muito profissional, e que estava sendo vitoriosa nacional e internacionalmente", completou.
Chapecó tem pouco menos de 210 mil habitantes, enquanto Lages tem quase 160 mil habitantes. As populações não diferem muito das de cidades com outras equipes com clubes de destaque no futebol catarinense: Blumenau (sede do Metropolitano) tem 334 mil moradores, à frente de Criciúma (204 mil), Palhoça (138 mil) e Brusque (126 mil). Os dados são do IBGE.
Para Christopher Nunes, os perfis das cidades acabaram promovendo uma certa proximidade entre os clubes do interior de SC. "A Chapecoense tem ligações de muito tempo com o Inter de Lages. Era uma equipe que, até anos atrás, era do mesmo tamanho do Inter, e que, em muitos momentos, partilhavam do mesmo sonho, desse crescimento", diz o dirigente. "A Chapecoense - com essa diretoria que em grande parte faleceu - conseguiu alcançar esse sonho de uma cidade pequena. Em Santa Catarina, as cidades médias – Criciúma, Lages, Chapecó – giram em torno de 200 mil habitantes. Em nível nacional, são pequenas; aqui, são cidades importantes, muito parecidas", compara.
A exemplo do discurso da diretoria do Joinville, o tom no Inter de Lages foi bastante carinhoso ao relembrar Sandro Pallaoro. Christopher Nunes esteve com o então presidente da Chapecoense pela última vez em 17 de novembro, durante encontro de dirigentes catarinenses em Florianópolis; da ocasião, lembra a defesa que Pallaoro fazia das equipes do interior do estado.
"O Sandro sempre foi a favor dos pequenos clubes, da fórmula do campeonato (Catarinense). A Chape gostaria de receber Figueirense e Avaí em sua casa, e sempre nos apoiou. Jantamos juntos, passamos 15 horas no aeroporto (Hercílio Luz, em Florianópolis) e conversamos muito sobre o futuro", disse o dirigente, que espera "um jogo muito difícil" contra a Chape no dia 29 de janeiro.
"Respeitamos muito a Chapecoense. Esperamos poder fazer uma boa partida, ter a Chapecoense muito forte. E que possamos ver a Chapecoense bem no Estadual, bem na Primeira Liga, na Libertadores. E que eles possam fazer um trabalho que surta esse mesmo efeito dos últimos anos. Esperamos que a Chapecoense possa se reestruturar, se remodelar com esse grupo que permaneceu", torce.
Ajudar nem sempre é fácil
Embora os primeiros rivais da Chapecoense demonstrem sua solidariedade com o clube após a tragédia na Colômbia, as possibilidades se dividem no que se refere a apoio.
No Joinville, a diretoria se colocou "à disposição" para ajudar no que for possível.
"Assim como os principais clubes do país, nos solidarizamos e colocamos nosso clube à disposição para ajudarmos a Chapecoense no que estiver ao nosso alcance. Assinamos as medidas solidárias à Chape. Com certeza estaremos sempre disponíveis para o que eles precisarem", afirmou o presidente Jony Stassun.
No Inter de Lages, porém, a situação é mais complicada. Participante da Série D do Campeonato Brasileiro, o clube se acostumou nos últimos anos a aproveitar a situação ascendente da Chape para buscar reforços, por exemplo; em situação modesta, tem pouco a oferecer ao coirmão.
"Hoje, na dimensão que vive a Chapecoense, podemos fazer algum tipo de manifestação mais de forma simbólica do que de forma financeira ou desportiva", explica Christopher Nunes. "O Inter de Lages vive hoje uma dimensão muito abaixo. Se não fosse o ocorrido, talvez sete ou oito funcionários viriam para cá jogar o Estadual, pagos pela Chapecoense", lamenta.
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