Conceitos são ressignificados enquanto mulheres recebem cuidados ao enfrentar o câncer

por Dani Melo

“As mulheres que desejam participar do grupo podem ficar à vontade para agregar-se a nós. Á medida em que o grupo cresce, se fortalece.” Luciana Lima

Somente quem passa pela provação de enfrentar uma doença séria como o câncer sabe o que é encarar o diagnóstico, o tratamento cansativo e as modificações no corpo, como a perda de cabelos. Contudo, a experiência pode trazer consigo a sensação de vida nova, um recomeço cheio de emergia, fé e otimismo. E sob esse ponto de vista, a Associação de Assistência Social, Trabalho e Cidadania (Samt) mergulhou em mais uma parceria em favor da autoestima feminina.

Mulheres se encontram no grupo de apoio uma vez por mês (quintas-feiras), das 14h30min às 16h30min, para debater temas relacionados ao problema, superação e cura, além de receberem o empréstimo de perucas por conta da perda de cabelos ocasionada pela quimioterapia e a aquisição de lenços (Amigas de Lenço), acessórios que as deixam mais charmosas e autoconfiantes, com a vaidade aguçada e a feminilidade, à tona. 

A coordenadora de projetos da Samt, Luciana Lima, esclarece que esse trabalho vem sendo desenvolvido desde 2014, iniciado no Centro de Estudo e Assistência à Saúde da Mulher (Ceasm), numa parceria com o Projeto Alô, Elô. Neste ano, o grupo terapêutico foi levado para dentro da sede da Samt, na rua Frei Gabriel, 344. 

Uma das razões é o fato de que a entidade conta com um banco de empréstimo gratuito de perucas, existente através da doação de mechas de cabelo. “Campanhas, eventos, Outubro Rosa e voluntariado são algumas das fontes de arrecadação de cabelos”, enfatiza Luciana. A cessão de perucas é feita pelo tempo em que a paciente julgar necessário. Uma das iniciativas, que em 2015 teve sua primeira edição, no Clube Caça e Tiro 1º de Julho, foi o Chá de Chapéu, que este ano acontece em 23 de setembro.

Empatia e altruísmo 

Excepcionalmente, o grupo se reuniu na tarde desta quarta-feira (20). Especificamente, houve um bate-papo, com acolhimento de novas integrantes, e a participação da designer de sobrancelhas Ana Carolina Corso, proprietária das clínicas Stretch e Magrass, colaboradora do Projeto Sobrancelhas do Amor, já que a profissional colabora realizando procedimento de sobrancelha a partir de uma maquiagem especial. 

Ana Carolina diz estar feliz por fazer parte do projeto. “O motivo que me leva a estar aqui é a luta da mãe de uma amiga minha. Eu contribuo para que essas mulheres elevem sua autoestima e, da mesma forma, contribuem para que a minha esteja no alto. Emocionalmente, fico bem”, afirma.

Esse foi o terceiro encontro da empresária com as meninas. “As mulheres que desejam participar do grupo podem ficar à vontade para agregar-se a nós. Á medida em que o grupo cresce, se fortalece”, sublinha Luciana. Os encontros acontecem independentemente do número de participantes, pois cada uma se reserva ou é submetida aos efeitos de um medicamento, procedimento, exame ou consulta, portanto, nem sempre o grupo estará completo.

União

O Salão Nilce e Perucas é um dos colaboradores do grupo feminino de apoio, produzindo as perucas para empréstimos a pacientes. O recebimento de mechas, contagem, pesagem e o cadastramento devem ser realizados pelas voluntárias diretamente na Samt, na rua Frei Gabriel, 344, em frente à rótula de acesso ao Departamento de Recursos Humanos (DRH) da prefeitura. Já a empresária cabeleireira Dilce Hairdresser contribuiu com a Samt doando cerca de 90 mechas de cabelo.

A força da mulher 

A dentista Adriana Faria Chaves tem 47 anos, é mineira e reside em Lages há 19 anos. Casada e mãe de uma filha de 17 anos, ela estreou no grupo nesta quarta, a convite de Luciana, com a qual mantém uma relação de amizade mais frequente através de uma amiga em comum, falecida de câncer na semana retrasada. Ela descobriu o câncer na mama em outubro de 2009 e celebra a vida por estar curada desde o ano passado. “É maravilhoso ter a chance de sobreviver e criar seu filho. Eu tive o privilégio de sobreviver e sinto que tenho de fazer alguma coisa por alguém”, enfatiza. Ela vai ao grupo para levar sua experiência. “A rede de colaboradores é superinteressante. Até certo tempo atrás eu não estava preparada para isso, me emocionava mais facilmente. Agora me sinto bem forte”, frisa.

A dona de casa Eva Terezinha de Oliveira de Jesus tem 46 anos, é mãe de dois garotos, de 23 e 24 anos, e está enfrentando o câncer de mama com coragem e serenidade. A doença foi descoberta há 1,5 ano. A perda dos cabelos, sobrancelhas e cílios durante o tratamento fizeram-na entristecer, porém, a esperança se revigorou com a iniciativa da Samt. “Aqui encontrei aconchego. As experiências das outras mulheres nos dão forças para batalhar. Hoje estou muito feliz, apesar de passar por tudo que passei”, conta ela, que foi submetida a oito sessões de quimioterapia. “Hoje a moça desenhou minhas sobrancelhas. Dá outra aparência. Querendo ou não, cabelo e sobrancelha fazem muita diferença no rosto de uma mulher”, acrescenta.