Um assunto que envolve muitos tabus e medos é a escolha do tipo de parto, especialmente se for o normal. Isso porque boa parte dos mitos foram criados ao longo de décadas e, ainda hoje, assustam as mulheres. Desta forma, muitas delas acabam escolhendo a cesárea, por receio e falta de informação sobre o parto normal.
Tanto é que, dados do Ministério da Saúde apontam que o percentual de cesáreas realizadas no Brasil chega a 84% na rede privada, e na rede pública é de cerca de 40%. O problema é que, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas 15% dos partos devem ser realizados por meio de cesarianas.
Mas, acreditem, muito do que se fala sobre o parto normal é mito. Quer ver só? Você já deve ter ouvido, por exemplo, que se o cordão umbilical estiver enrolado no pescoço pode sufocar o bebê durante o parto natural, certo? E que a dor do parto normal é enorme, ou ainda que esse tipo de parto pode "alargar" a vagina e atrapalhar, depois, a vida sexual do casal. Pois saiba que essas e outras situações são apenas alguns mitos bastante disseminados e herdados anos após anos.
Segundo o ginecologista obstetra Domingos Mantelli, o parto normal não é tão doloroso se comparado à cesariana. O corte da cesárea pode doer de forma contínua, por semanas e até meses. "O mais indicado para o bebê é o parto normal mesmo", afirma o médico.
De acordo com o médico Claudio Basbaum, doutor em Ginecologia e Obstetrícia com especialização na Universidade de Paris, na França, outro mito é o de que o parto normal atrasa o retorno às atividades, quando na verdade ocorre o contrário. "As mulheres submetidas ao parto normal retornam às atividades bem antes do que aquelas que optam pela cesárea. O parto normal, se comparado à cesariana, ainda evita possíveis complicações e propicia uma alta hospitalar precoce", afirma
"QUANDO O CORDÃO UMBILICAL ESTÁ ENROLADO NO PESCOÇO DO BEBÊ NÃO POSSO FAZER PARTO NATURAL"
MITO.
Segundo o ginecologista obstetra Domingos Mantelli, o cordão umbilical enrolado no pescoço da criança não necessariamente indica a necessidade de se fazer uma cesárea. O que acontece é que o cordão, se ficar muito justo e comprimido, pode impedir a circulação de oxigênio no sangue do bebê e o indicado será a cesárea.
"No entanto, se o cordão estiver apenas enrolado no pescoço, podemos seguir com o parto normal. É totalmente viável. O médico deve avaliar, por meio dos procedimentos e exames, se deve realizar a cesárea", afirma Domingos.
O médico Cláudio Basbaum, professor doutor em Ginecologia e Obstetrícia com especialização na Universidade de Paris, na França, explica que se dá o nome de "circular de cordão" a situação em que o cordão umbilical, ao final da gestação, se enrola em torno dos braços, coxas, tronco e, mais frequentemente, no pescoço do bebê. Segundo Cláudio, esta condição ocorre em um terço das gestações.
E devido ao comprimento do cordão, essas "circulares" não impedem que, na maioria das vezes, ocorra um parto normal. Até porque, em geral, elas não estão apertadas. E tendem a se fazer e desfazer como resultado da própria movimentação do feto imerso dentro da "bolsa das águas" [que protege o feto dentro do útero materno].
Em geral, reforça Claudio, podemos desenrolar o cordão no momento em que o bebê efetivamente vai nascer. "Assim, uma circular "identificada" ou "suspeitada" durante o pré-natal, por meio de um exame ultrassonográfico, não condena uma gestante ser submetida obrigatoriamente a uma cesariana. Isso ocorre apenas quando são reconhecidas alterações no bem-estar fetal como, por exemplo, nos batimentos cardíacos do bebê, entre outras situações", completa o médico.
PARTO NATURAL É MAIS DOLOROSO DO QUE A CESARIANA"
MITO.
O ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum, membro do corpo clínico do Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo, explica que o parto natural tende a ser desconfortável (ou mesmo doloroso) especialmente nas parturientes despreparadas ou que não têm um bom suporte da equipe obstétrica.
Diferença entre parto natural e normal!
"O parto natural é igual em quase tudo ao parto normal. A diferença é que no natural não há intervenções como anestesias, episiotomia (incisão no períneo até há pouco tempo rotineira) e indução para acelerar o parto. A cesariana, comum em todas as intervenções cirúrgicas, pode trazer desconfortos, dores ou outras intercorrências, embora disponha atualmente de recursos modernos de anestesia e de analgesia que administram bem as queixas, oferecendo um pós-parto bem agradável", reforça Claudio.
De acordo com Domingos Mantelli, o parto natural não é tão doloroso se comparado à cesárea. "Hoje podemos realizar um parto normal com analgesia, que é quando o médico faz uma anestesia peridural* combinada [quando une a peridural e a raquianestesia], que ajuda a mulher a não sentir tanta dor durante o trabalho de parto e durante o período expulsivo do bebê. Na cesariana, a mulher também não sentirá dores porque receberá a raquianestesia* [também conhecida como ráqui]. Mas, para o bebê, o mais indicado é o parto normal. A cesariana não pode ser feita de maneira indiscriminada", afirma.
*Anestesia peridural: quando é aplicada uma agulha nas vértebras e depois um cateter fininho que vai levar medicamentos anestésicos aos poucos. Nesse caso, a futura mamãe perde a sensibilidade a dor, mas terá controle dos seus movimentos da cintura para baixo.
*Raquianestesia: anestesia decorrente da aplicação de anestésico no líquido que envolve a medula espinal, bloqueando a sensação de dor antes dela atingir o sistema nervoso central. Como resultado, a mulher perde as atividades motoras na parte inferior do corpo, ou seja, do umbigo para baixo.
"TIVE O PRIMEIRO FILHO POR CESÁREA E NÃO POSSO MAIS TER MAIS UM PELO PARTO NATURAL"
MITO.
"Os obstetras recomendam que a mulher faça um intervalo de 2 anos antes de ter o segundo filho, no caso de parto normal. Este espaço de tempo é importante porque, durante as contrações da próxima gravidez, o útero pode se romper na cicatriz da cesárea anterior e ocasionar uma hemorragia interna", opina o obstetra Domingos Mantelli.
"O antigo conceito de uma "vez cesárea, sempre cesárea", mencionado há um século, deve ser sempre questionado analisando cada caso individualmente. O histórico de apenas uma cesárea anterior, tecnicamente bem realizada, em princípio, não eleva o risco de complicações materno-fetais", reforça Claudio Basbaum.
FIZ CESÁREA PORQUE O PARTO NORMAL ALARGA A VAGINA E NÃO VOLTA MAIS AO NORMAL"
MITO.
De acordo com Claudio Basbaum, os músculos do períneo e do ânus fazem parte do "assoalho pélvico", região que dá sustentação a órgãos como útero, bexiga e reto. O que acontece é que, na gravidez e no trabalho de parto, ocorre o aumento da pressão dentro do abdômen, que pode causar "frouxidão" dessas estruturas de sustentação. Assim, durante a passagem do feto pelo canal do parto e, sobretudo na hora da saída do bebê, podem ocorrer estiramentos de algumas fibras musculares na região do assoalho pélvico.
"Devemos prevenir que isso ocorra por meio de exercícios perineais adequados durante o pré-natal. Excelentes resultados são obtidos com orientação fisioterápica, caso persistam eventuais problemas locais após o parto. Mas devo alertar: não é por medo de que a vagina fique "larga" que a gestante deve ser submetida a uma cesariana", observa o médico ginecologista.
TANTO FAZ NORMAL OU CESÁREA. ISSO NÃO VAI FAZER A MÍNIMA DIFERENÇA PARA O BEBÊ"
MITO.
"Sabemos que o parto normal é melhor, tanto para a mãe quanto para o bebê. O fato de a mulher ter as contrações ajuda porque elas ajudam o bebê a expelir o líquido dentro dos pulmões, o que diminui as chances dele desenvolver problemas respiratórios. E a criança também terá mais facilidade no momento da amamentação", afirma o médico obstetra Domingos Mantelli.
O RETORNO ÀS ATIVIDADES É MAIS RÁPIDO EM MULHERES SUBMETIDAS À CESARIANA"
MITO.
"O retorno das atividades normais realizadas pela mulher é muito mais rápido quando ela realiza um parto normal. Vale lembrar que a cesariana é uma cirurgia de grande porte e tal qual deve ter os seus cuidados, como repouso pós-cirurgia, cuidados com os pontos e cuidados com infecções. Com a cesárea, ela também terá mais dores. Sem sombra de dúvidas o parto normal ajuda a mulher a retornar as suas atividades de forma mais rápida", explica Domingos Mantelli.
SE NÃO HÁ DILATAÇÃO SUFICIENTE SÓ ME RESTA FAZER CESÁREA"
MITO.
"Se não há dilatação o suficiente, o médico pode usar algumas artimanhas para tentar promover uma melhor contração, coordenar o trabalho de parto e fazer com que essa dilatação ocorra. Caso todos os artifícios sejam utilizados e mesmo assim o trabalho de parto não evolua, a cesárea será indicada. Mas, antes de qualquer coisa, o médico tem muitas opções antes de indicar a cesariana", afirma Mantelli.
TENHO QUADRIS ESTREITOS E, POR ISSO, NÃO POSSO TER PARTO NORMAL"
MITO.
Domingos: "Se a mulher tem o quadril estreito ela pode, sim, ter o parto normal. Obviamente, dependendo do tamanho do bebê, o médico consegue medir isso durante as consultas por meio do toque vaginal, bem como saber o ângulo de passagem, ou seja, estimando o peso do bebê durante o ultrassom e avaliando se ele pode passar por um parto normal, ou não".
PARTO NORMAL VAI ME ALARGAR E ATRAPALHAR MINHA VIDA SEXUAL"
MITO.
A passagem do bebê pela vagina não deixa a mulher "alargada" e não interfere de forma negativa no prazer sexual do casal. Isso porque o canal por onde passa a criança - entre a vagina e o períneo -, que é a musculatura que envolve a entrada da vagina e ânus, são grandes e de fortes músculos. Dessa forma, há a capacidade de relaxar e contrair para retornar ao tamanho normal ou muito próximo ao normal após o parto. A mulher que sabe que é possível utilizar esta musculatura pode melhorar e muito sua vivência sexual. A melhor forma de prevenir a frouxidão da vagina ou da bexiga é por meio de exercícios feitos com o períneo.
O PARTO NORMAL DEMORA DEMAIS"
MITO.
Não existe um padrão de tempo que determine exatamente o tempo para o parto ocorrer. Isso porque cada gestante tem um tempo próprio para parir. Há partos que demoram 1 hora e outros muito mais tempo. Para saber se está tudo bem com o bebê e mãe, é preciso saber se os batimentos fetais e da pressão, bem como se a vitalidade da mãe estão dentro do padrão regular. Caso isso esteja ok, o parto deve acontecer no "seu" tempo adequado.
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