sexta-feira, 6 de março de 2015

Samt pretende disponibilizar curso de panificação aos presos em Lages

 
A ideia de montar uma padaria dentro das duas unidades partiu do presidente do Conselho da Comunidade e Comissão de Direitos Humanos da subseção da OAB em Lages, Afrânio Camargo
 
Atualmente há 420 detentos homens no Santa Clara e cerca de 270 no São Cristóvão (Foto: Sandro Scheuermann)
 
Uma das maiores preocupações do sistema carcerário no Brasil é a necessidade de qualificar a mão de obra dos detentos para que possam criar mecanismos de própria subsistência enquanto cumprem determinações judiciais. Além de combater a ociosidade, o trabalho nas unidades de reclusão funcionaria como exercício de preparo para a volta ao cotidiano social e um recomeço no mercado de trabalho. Atuante em segmentos variados com capacitação de mão de obra, a Associação de Assistência Social, Trabalho e Cidadania (Samt) está mobilizada em uma alternativa. O objetivo é beneficiar detentos das unidades prisionais dos bairros São Cristóvão e Santa Clara.
A ideia de montar uma padaria dentro das duas unidades partiu do presidente do Conselho da Comunidade e Comissão de Direitos Humanos da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Lages, Afrânio Camargo, que visitou, junto com a presidenta da Samt, Rosa Abou Hatem, e a coordenadora da oficina de padaria da Samt, Carmen Colombo, as duas unidades prisionais na tarde desta quinta-feira (5). Eles conversaram com o gerente do presídio masculino do Santa Clara, Márcio de Oliveira. No regional do São Cristóvão, a função é desempenhada por Paulo Roberto de Oliveira, onde existe a ala feminina.

Mais de 600 detentos
Atualmente há 420 detentos homens no Santa Clara e cerca de 270 no São Cristóvão, destes, 70 são mulheres. A média de idade está na faixa entre 20 e 30 anos. Uma das maiores razões da reclusão é o envolvimento com drogas. “Nesta unidade pretendemos ajudar as mulheres. Queremos que aprendam uma profissão e a trabalhar em grupos, desenvolvendo princípios de coletividade”, explica Rosa. Ainda nesta quinta, a comitiva visitou as duas unidades para verificar as salas onde poderão ser montados os espaços para curso e produção de pães.
O profissional para repassar a instrução será oferecido pela Samt. Já para o maquinário e fornecimento de insumos (farinha, fermento, ovos, leite) serão buscadas parcerias pela Samt e Conselho da Comunidade. “No que tange ao Santa Clara, estamos discutindo alguns pontos porque a ideia não foi pensada em planta arquitetônica à época da construção. No presídio do São Cristóvão alguns espaços passaram por adequações. É o que terá de acontecer no Santa Clara, onde já estamos montando salas de aula para elevar o nível de escolaridade”, aponta Márcio de Oliveira.
Além das aulas, os detentos cumprem trabalho externo em fruticultura durante a temporada de colheita de maçãs, em uma indústria química e em madeireira, ambas na Área Industrial. A elevação escolar já é executada na unidade do São Cristóvão. Os dois presídios tem consumo diário médio de 2.500 pães cada. Rosa Abou Hatem adianta que no Santa Clara será preparada uma sala para receber cursos da Samt, como costura industrial, inclusão digital, tear e tapeçaria.

Mente vazia...
O presidente do Conselho da Comunidade e Comissão de Direitos Humanos da subseção da OAB, Afrânio Camargo, acredita que o preso, ao estar ocioso, por vezes volta a delinquir se estiver dentro do presídio sem desenvolver nenhuma atividade, principalmente, laboral. “É como aquele velho ditado: mente vazia, oficina do diabo. Se lhe dermos oportunidades e um voto de confiança, uma esperança, possibilitamos que tenha as portas abertas lá fora, o resgate da sua dignidade”, respalda, salientando que no presídio do Santa Clara existe uma gráfica, onde são ensinadas noções de cartonagem, além de um serviço de montagem de grampos de roupa de madeira. “Todo mundo quer uma sociedade segura, mas não se dá chance para estas pessoas que estão presas, de se reabilitarem”, frisa o advogado. “A sociedade não pode ficar de braços cruzados e somente exigir. Tem de fazer sua parte também”, analisa.

Reincidência
Em função do tráfico de drogas e demais crimes correlacionados aos entorpecentes ilícitos, como furtos, roubos e assaltos, o índice de reincidência é alto. “A taxa de reabilitação e de inserção no mercado de trabalho após cumprimento da pena varia de acordo com a região. Em Lages há presos de Araranguá e Florianópolis, assim como há detentos de Lages em outras cidades. Por isso é difícil mensurar a taxa percentual de reincidência”, explica o gerente Márcio de Oliveira.
Para ilustrar, devido a curta permanência nos presídios, por se tratar de determinação provisória, as chances de os detentos voltarem à sociedade e dentro de três meses cometerem novos delitos e serem pegos em flagrante durante liberdade provisória são altas. Já nas penitenciárias o caminho a ser percorrido é longo. “Justamente por falta de uma estrutura globalizada da questão em que se pense nas etapas lógicas: prisão, reeducação, ressocialização, profissionalização, preparação e soltura. Hoje em dia os cidadãos permanecem somente presos e punidos”, avalia. Penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado. A cadeia pública direciona-se ao recolhimento de presos provisórios.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Treinamento aprofunda conhecimentos a respeito de nova versão da Nota Fiscal de Serviço Eletrônica a servidores municipais e a profissionais da sociedade conforme obrigatoriedade de uso a partir de 2026

  Nota Fiscal de Serviço Eletrônica (NFS-e) nacional, documento fiscal digital com o desígnio de registrar as operações de prestação de serv...