74,5% das entrevistadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública declararam que foram vítimas de assédio moral; ainda entre elas, 25,5% também alegam ter sofrido assédio sexual
Uma pesquisa sobre as relações de gênero nas corporações policiais mostrou que 57,4% das 2.415 policiais entrevistadas acreditam que o comportamento das mulheres no trabalho pode incentivar comentários inapropriados ou assédio, tanto moral quanto sexual. Entre os policiais do sexo masculino que responderam à pesquisa, 63,2% compartilham da mesma opinião.
Segundo a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Samira Bueno, é preciso desmistificar essa visão porque as mulheres não podem ser responsabilizadas pela violência que sofrem. “É interessante ver como isso está colocado na cabeça das mulheres, reflexo da cultura machista que faz parte da nossa sociedade”, disse. Além disso, 40,4% das entrevistadas acreditam que as mulheres usam de troca de favores sexuais para ascender hierarquicamente na instituição.
O FBSP fez a pesquisa “As Mulheres nas Instituições Policiais” em parceria com o Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getulio Vargas, a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça e o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais.
Foram ouvidos 13.055 policiais em todo país, de 12 a 26 de fevereiro de 2015, das polícias Civil, Militar, Técnico Científica, Federal e Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros e guardas municipais. A pesquisa foi respondida voluntariamente por meio de formulário eletrônico.
Das mulheres entrevistadas, 39,2% declaram ter sido vítima de algum tipo de assédio (moral ou sexual) dentro da própria corporação. Dentre essas, 74,5% se declaram vítimas de assédio moral e 25,5% afirmam ter sido assediadas sexualmente, sentindo-se desrespeitadas ou forçadas a dar consentimento. Entre os homens, dos 20,1% que declararam que foram assediados, 95,6% sofreram assédio moral.
De acordo com a pesquisa, apenas 11,8% das policiais prestaram queixa do assédio e, destas, 68% não ficaram satisfeitas com os desdobramentos da denúncia. No caso dos homens, 11,7% prestaram queixa e desses 80,7% não ficaram satisfeitos com o resultado. Entre os desfechos citados estão o arquivamento da denúncia, sindicância interna, advertência formal, transferência do denunciado, promoção do denunciado, além daqueles que desconhecem o desfecho.
Segundo Samira, os resultados também mostram a perspectiva dos homens em relação à mulheres e os níveis de violência a que são submetidas. “As mulheres estão mais vulneráveis ao assédio. Se compararmos as respostas, é mais comum para as mulheres perceberem piadas ou comentários inapropriados como formas de violência e os homens não entendem isso como ofensa. Mas 62,9% das mulheres passaram por essa situação”, disse.
A diretora explicou que o objetivo da pesquisa era explorar as relações de gênero nas instituições de segurança pública, tendo em vista o crescente protagonismo das mulheres nesse trabalho. Segundo o Fbsp, estima-se que o Brasil tenha cerca de 75 mil policiais femininas, ou cerca de 12% do universo pesquisado.
“A maior parte das policiais não sabem como denunciar, as corporações não tem fluxo definido para quando esse assédio acontece. As corregedorias, em tese, podem receber denúncias, mas não têm protocolos ou normativas, é muito subjetivo”, disse Samira. Entre os canais utilizados pelos policiais para denúncias, segundo a pesquisa, estão a Corregedoria e a Ouvidoria, delegacias de polícia, o Ministério Público e as entidades de classe (associação ou sindicato).
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