quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O que vai acontecer se São Paulo ficar realmente sem água?

Cenários traçados englobam redução do horário de funcionamento de alguns estabelecimentos, instituição de férias coletivas e economia de alimentos.
Exame.com
São Paulo – A crise da água em São Paulo está se agravando e o cenário não deve melhorar nos próximos meses. Especialistas consultados por EXAME.com afirmam que as soluções de curto prazo existentes já foram tomadas e o que nos resta agora é o rodízio de abastecimento. A Sabesp já cogita um revezamento severo, de cinco dias sem água por semana. Com isso, a pergunta que todo paulistano se faz é: o que vai acontecer se ficarmos realmente sem água?
Os cenários traçados vão desde o esgotamento dos nossos lençóis freáticos, devido à perfuração excessiva de poços, até a redução do horário de funcionamento de alguns estabelecimentos e a instituição de férias coletivas em decorrência da falta de água. Dentro de casa, estocagem de água e economia de alimentos.
O fato é que a atual crise veio para ficar, e será preciso mudar nossos hábitos radicalmente, alerta Gabriela Yamaguchi gerente de campanhas do Instituto Akatu, instituição que atua na promoção do consumo consciente. “Esse cenário não vai ficar só em 2015. Devemos permanecer pelo menos dois anos com pouca chuva. Portanto, a situação dos reservatórios não vai melhorar no curto prazo”, afirma.
O engenheiro especialista na área hídrica Julio Cerqueira Cesar Neto, reforça esse diagnóstico: “Quando acabar o volume morto do Cantareira nós deixaremos de ter 33 m³/s. Esse é o tamanho do problema. E não tem de onde tirar esse volume de água num curto prazo”, afirma.
Caso esse cenário se concretize, Gabriela afirma que a prioridade será dada para serviços essenciais, como hospitais, polícia, bombeiros e escolas. “Em outros locais, como shoppings, é possível que haja uma redução do horário de funcionamento. Também já ouvimos entidades empresariais falarem em férias coletivas para os funcionários, devido à falta d’água”, afirma.
No entanto, a representante do Akatu argumenta que esse tipo de situação ainda pode ser evitado. A receita estaria na articulação dos diversos atores sociais para garantir a economia de água.
“Para que não se chegue a isso, é preciso ter mais coordenação no diálogo. Não é possível esperar que só uma campanha de diminuição de consumo da população resolva o problema. Precisamos da participação do setor industrial e do agronegócio”, defende.
Poços
Enquanto essa coordenação não se concretiza, muitos estabelecimentos já estão recorrendo à perfuração de poços e, em casos extremos, à contratação de caminhões-pipa.
Porém, os especialistas explicam que a perfuração não pode ser levada ao extremo. “Se perfurar um poço muito próximo de outro, acabam os dois ficando sem água”, alerta o engenheiro Cesar Neto.
Outro problema é a possibilidade de que, com muitos poços, a cidade esgote outra fonte de recursos hídricos: os lençóis freáticos. “Com a perfuração de poços, o que estamos fazendo é apenas substituir uma fonte de água por outra. O raciocínio precisa ser diferente. Precisamos mudar nossos hábitos em relação ao consumo”, diz Gabriela, do Instituo Akatu.
Um dos caminhos para um uso mais consciente da água, segundo Gabriela, é o reuso. A água usada no enxague da máquina de lavar, por exemplo, pode ser reutilizada na descarga. Outra atitude necessária é o aproveitamento da água da chuva, inclusive com a construção de cisternas.
Outro ponto fundamental é observar nosso consumo de produtos que utilizam muita água em sua cadeia produtiva. “O exemplo clássico é o desperdício de alimentos. O maior consumidor de água do mundo é o agronegócio. E o maior desperdício que há no planeta é o de alimentos. Isso precisa diminuir”, argumenta.
De acordo com a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, o prazo dado pela Sabesp para iniciar um rodízio drástico no abastecimento é de menos de dois meses. Sendo assim, devemos correr para aprender a economizar água e a trabalhar em conjunto pela preservação de nossos recursos hídricos. 
Acompanhe diariamente como está a situação dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo na ferramenta de EXAME.com.

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