segunda-feira, 31 de março de 2014
Entenda como funciona a arma de choque, a mesma que matou o brasileiro na Austrália
O estudante brasileiro Roberto Laudíssio Curti, de 21 anos, foi morto no último domingo (18) em Sydney, na Austrália, após receber descargas de armas de choque disparadas por agentes da polícia, que o perseguiam na região central da cidade. A morte provocou indignação e discussões. A polícia do Estado australiano de Nova Gales do Sul pode até suspender o uso da arma de eletrochoque taser. Entenda como funciona a arma:
Composição
As armas de eletrochoque, como as da empresa Taser (as mais usadas no mundo), são consideradas do tipo não letal, ou seja, não levam à morte.
Carregadas com uma bateria interna, elas disparam um projétil em forma de dardo, que se fixa na roupa ou na pele da pessoa. Os dois dardos estão conectados à arma por meio de fios de cobre
A arma também pode ser usada por contato direto, sem o uso dos dardos
Quando o disparo é feito, é liberada uma energia de 50 mil volts contra o corpo da pessoa, mas com uma amperagem baixa, de 0,0036 ampère.
A voltagem mede a tensão elétrica. Já a amperagem mede a intensidade da corrente elétrica.
Um chuveiro elétrico, por exemplo, tem uma tensão de 220 volts, mas corrente de 20 a 30 ampères.
Para entender a diferença, pode-se fazer uma analogia com canos hidráulicos. A voltagem seria a força de pressão da água. Já a amperagem seria a taxa de vazão dela, ou seja, o volume que é liberado
Ciclo de 5 segundos
Em entrevista ao Hoje em Dia, da TV Record, o coronel de reserva da PM de SP Antonio Carlos Biagioni disse que o ciclo da arma é de cinco segundos. Ou seja, a arma funciona por cinco segundos e depois interrompe automaticamente sua ação.
- Se eu não quiser fazer um novo ciclo de cinco segundos após o primeiro, eu aciono e travo [a arma].
A arma conta com um “laser point”, que é a mira da arma (ponto em vermelho na imagem). O ponto indica onde será lançado o dardo superior
ecRecomendações
A arma está sempre travada (foto), diz o coronel Biagioni. A recomendação é para que ela seja destravada apenas quando estiver prestes a ser usada.
- A regra maior é que, quando houver esta arma, não pode existir outra arma mais potente do que ela.
Ainda segundo Biagioni, os policiais são instruídos a não disparar contra algumas partes do corpo da pessoa, como cabeça, região genital, os seis (em mulheres) e, no caso de grávidas, a região da barriga
Organismo
Segundo o coronel, o disparo atua no sistema nervoso central, neutralizando as ações voluntárias, mas não impedindo as ações involuntárias.
Ou seja, a pessoa é temporariamente paralisada, mas continua respirando e mantém seus batimentos cardíacos
– E, principalmente, ela [a pessoa] tem noção e percepção de todo o ambiente. Ela não vai desmaiar nem sofrer nenhuma ação que seja mais letal.
Segundo Biagioni, a arma não mata.
- Ela não eletrocuta, ela apenas leva energia para imobilizar a pessoa.
Críticas
Apesar de as armas de choque serem consideradas não letais, algumas organizações de direitos humanos criticam o uso deste tipo de arma.
Segundo a Anistia Internacional (AI), as armas de choque já mataram 500 pessoas nos Estados Unidos desde 2001.
Em relatório publicado em 2008 (foto), a AI afirma que “se preocupa com o potencial letal das pistolas Taser e de outros dispositivos similares, especialmente quando se utilizam sobre pessoas vulneráveis”
Grupos de risco
De acordo com a Anistia Internacional, as pessoas mais vulneráveis à ação das armas de choque são aquelas que sofrem de problemas cardíacos e estejam sob efeito de álcool ou drogas.
No entanto, o relatório da AI afirma que pessoas com aparente boa saúde e que não tomaram drogas também já morreram após receberem disparos da pistola.
Para a ONG, as armas paralisantes foram distribuídas nos Estados Unidos “sem que tivessem sido concluídos estudos rigorosos e independentes sobre sua segurança e seus possíveis riscos para a saúde”
Possíveis erros
No caso do brasileiro morto em Sydney, em que testemunhas disseram que a vítima recebeu mais de um disparo, o coronel Biagioni opina que, possivelmente, “houve um despreparo” por parte da equipe policial.
– A polícia [de Sydney] fez um disparo simultâneo de três ou quatro dessas armas.
Segundo o coronel, isso é desnecessário porque apenas uma arma é suficiente para conter violência de qualquer pessoa.
De acordo com o relatório da Anistia Internacional, que avaliou as mortes ocorridas nos EUA, a maioria das vítimas fatais morreram após receber várias descargas elétricas, ou, então, após descargas prolongadas, que duraram muito mais que os cinco segundos de um ciclo normal.
Para o coronel Biagioni, mesmo que três ou quatro armas tenham sido disparadas contra o brasileiro, “esse exagero” não seria capaz de provocar a morte do rapaz.
– Eu quero crer que ali houve uma conjunção de outras ações, [já que] houve também a exposição da vítima (...) ao gás pimenta, possivelmente uma agressão física (...).
Na imagem, peritos analisam local onde brasileiro foi morto em Sydney
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