terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Tenda dos Sentidos abre espaço para lições sobre deficiências


“Antes eu não dava muita ‘bola’, mas agora, quando eu ver alguém em apuros, irei ajudar, com certeza, pois somos todos iguais.” Luciano Oliveira Camargo
Os participantes estão sendo recepcionados por monitores, vendados e, sob orientação, passam por situações em que são ativados o tato, olfato e a audição (Fotos: Cao Ghiorzi)
Os participantes estão sendo recepcionados por monitores, vendados e, sob orientação, passam por situações em que são ativados o tato, olfato e a audição (Fotos: Cao Ghiorzi)
Exercitar a empatia frente ao próximo, colocando-se no lugar das pessoas portadoras de deficiências, sentindo na pele as múltiplas dificuldades de quem enfrenta as limitações do dia a dia. Essa oportunidade esteve disponível das 8h às 17h desta terça-feira (3), na praça Vidal Ramos Sênior, no Terminal Urbano. Do projeto “Tenda dos Sentidos” - Um novo sentido para a inclusão social, elaborado pelos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) participaram 13 instituições, entre elas, a Associação Serrana dos Deficientes Físicos (Asdf), Associação dos Deficientes Visuais do Planalto Serrano (Adevips) e Secretaria Municipal de Águas e Saneamento (Semasa).
Segundo os coordenadores das cinco unidades dos Cras, dos bairros Popular, Centenário, Penha, Tributo e Santa Mônica, e o Núcleo de Atendimento do Bela Vista, o objetivo da proposta é promover experiências através de vivência corporal baseada na privação da mobilidade e do sentido da visão, levando os participantes a sentirem as dificuldades o mais perto da realidade possível.
Pela manhã a Secretaria de Assistência Social disponibilizou um ônibus, e 40 crianças e adolescentes dos bairros de abrangência dos Cras, entre 6 e 17 anos, vivenciaram as precipitações de quem é “especial”. Em uma tenda, montada ao lado do Terminal Urbano, foi estabelecido um percurso onde são exploradas várias formas de sensações por meio de cheiros, formatos, texturas e sons, ativando os sentidos.
Os participantes foram recepcionados por monitores, vendados e, sob orientação, passaram por situações em que são ativados o tato, olfato e a audição. Durante alguns minutos, cada pessoa percebe o mundo como um deficiente visual. Seguindo a linha de experiência, do lado externo da tenda foi disponibilizada uma cadeira de rodas, utilizada em um breve trajeto, quando são vivenciadas as dificuldades de um deficiente físico.
Após o desenvolvimento das cinco etapas das vivências (percepção de imagens de animais e paisagens; floresta - animais empalhados e galhos de árvores; avenida movimentada; líquidos, e estímulos visuais), o participante recebe uma reflexão. “A visão corresponde a 80% da percepção do meio, ou seja, se uma pessoa a perde, em teoria ela perde 80% da possibilidade de aprendizagem”, diz a professora de orientação e mobilidade para deficientes visuais da Fundação Dorina Nowill, de São Paulo, Maria Cecília Lara de Toledo.

Cras dão apoio aos necessitados

O Cras é a porta de entrada dos serviços socioassistenciais e emblema do Sistema Único da Assistência Social (Suas), e necessita de ações que possibilitem o conhecimento da população sobre seu acesso aos serviços ofertados. A coordenadora do Cras IV, a psicóloga Maiani Pereira Lins, no bairro Tributo, onde estão cadastradas 2.808 famílias em 19 bairros e loteamentos, incluindo o distrito de Índios e comunidades rurais, assinala que nos locais, diariamente, as equipes tentam inserir os deficientes, em sua maioria, físicos, no mercado de trabalho.
A equipe entra em contato com as empresas a fim de preencher as cotas direcionadas. “Além disso, o Programa Nacional de Acesso ao Emprego e ao Ensino Técnico (Pronatec) oferece oportunidades de profissionalização. Há famílias que superprotegem e até escondem seus filhos portadores de necessidades especiais. Os deficientes sentem insegurança e precisam de aceitação. Nos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) esse público é atendido também. Além disso, já existe, mas precisa ser intensificado, o trabalho a domicílio. É importante lembrar que o déficit intelectual, como autismo, e a Síndrome de Down, somam-se às deficiências e precisam de atenção”, reforça a coordenadora, salientando que a maior dificuldade percebida pelos profissionais ainda se mostra na acessibilidade.

“Hoje eu aprendi uma lição”, revela garoto

Luciano Oliveira Camargo, 9 anos, estuda o 3º ano do ensino fundamental e mora no bairro Santa Mônica, e mudou drasticamente de opinião depois de passar pela Tenda dos Sentidos. “Eles taparam meus olhos, aí tinha de observar e adivinhar o que havia ali (na Tenda). Uma das coisas que mais chamaram minha atenção foi sentir como é a vida de um cego, mas as limitações de quem não caminha me surpreendeu mais, pois é difícil, tem de movimentar o equipamento (cadeira de rodas) com as mãos, machuca, e é cansativo. Todo o comando da cadeira é esforçado: travar, frear, girar nas curvas, subir em rampas”, alerta o garoto.
Ele recorda a história do seu avô, que era cadeirante. “Eu lembro que era muito complicado viver assim. Com muletas também não deve ser fácil, deve doer os braços. Quem não tem deficiência deve agradecer a Deus e lutar por quem tem. Hoje (terça) eu aprendi uma lição. Antes eu não dava muita ‘bola’, mas agora, quando eu ver alguém em apuros, irei ajudar, com certeza, pois somos todos iguais”, finaliza.


Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Cao Ghiorzi

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